Certa vez, na calma de uma pequena cidade, havia um velho que sentava-se frequentemente à beira de um heliponto. Seu olhar, que refletia a luz do sol, guardava um sonho que o acompanhava desde a infância: voar de helicóptero. De fato, sua trajetória de vida nos ensina que, muitas vezes, sonhos simples podem se tornar desafiadoras de serem realizados, especialmente quando as condições sociais dificultam.
Quando menino, ele carregava dentro de si um desejo ardente de aventura. Sonhava em voar, e aqueles helicópteros eram como estrelas brilhantes em uma noite escura. Desde cedo, sua infância foi marcada pela necessidade de trabalhar, mas isso não o impediu de buscar conhecimento. Assim que aprendeu a ler, lançou-se nos livros e revistas sobre helicópteros, absorvendo cada detalhe como se fossem preceitos sagrados. Para ele, não havia tempo a perder.
Dividia seu tempo entre o trabalho e os estudos, sempre arrumando um momento para se aprofundar na temática que tanto o fascinava. Era um jovem dedicado, que contrapunha a desconfiança dos pais com sua paixão. Sua casa se tornara uma verdadeira exposição: brinquedos, maquetes e revistas ilustradas com helicópteros se acumulavam, revelando seu amor por aquelas máquinas voadoras. Ele sabia que as chances de fazer um curso de piloto eram remotas, mas não se deixou abater.
Com essa determinação, decidiu se alistar nas forças armadas, acreditando que ali encontraria a oportunidade de realizar seu sonho ou, pelo menos, servir como soldado junto às equipes que operavam aqueles equipamentos. No entanto, algo triste aconteceu. Ao saber que seu pai pedira a um amigo que era militar que seus filhos não servissem, pois precisava da ajuda deles em casa, trabalhando, ficou decepcionado. O que poderia ter sido uma grande chance de vida se esvaiu, mas, com o tempo, ao perceber o esforço que o pai fazia para manter a família, compreendeu a decisão do pai, ainda que doesse em seu coração.
Apesar de enfrentar os céticos que diziam que viver de sonhos era uma ilusão, ele nunca abandonou sua fé nas palavras que sempre ouvia: “não desista de seu sonho, um dia você vai conseguir.” Assim, após anos de sacrifícios, formou-se, casou-se e teve filhos, mas o sonho de voar permanecia vivo em seu coração, mesmo percebendo que a realização dele ficava cada vez mais distante.
Com o passar do tempo, agora um idoso com 80 anos, ele mantinha sua esperança e passava os dias observando os helicópteros que chegavam e partiam do heliponto próximo de sua casa, que escolheu morar justamente pela proximidade com o heliponto. Quando teve a oportunidade de comprar o imóvel, não teve dúvidas sobre a localização: “devia ser um local onde podia ver os helicópteros.”
Em cada decolagem, sentia um arrepio, como se a vida estivesse passando ao seu lado. Seus filhos percebiam o brilho nos olhos do pai quando conversavam sobre os tipos de helicópteros. Eles, em uma tentativa de trazer alegria ao velho menino, pediam que ele compartilhasse suas memórias e, assim, ele falava com entusiasmo sobre cada tipo, como se estivesse recitando versículos de um evangelho.
Certa manhã, um piloto que passava pelo heliponto notou o velho sentado, absorto em seus sonhos. A curiosidade o levou até a família do idoso, onde ouviu uma história que misturava dor e esperança. O piloto decidiu então que faria algo especial: levaria o velho menino para voar.
No dia marcado, os filhos o convenceram de que era uma surpresa. Conforme se aproximavam do heliponto, os olhos do idoso se iluminavam como se visse o paraíso. Ao chegar, recebeu a oportunidade de entrar no helicóptero. Ele se sentiu mais vivo do que jamais se lembrava, mas, em um gesto de sabedoria e resignação, disse ao piloto: “Agradeço muito, mas já sou muito velho para essa aventura. Meu sonho foi realizado ao entrar aqui e reviver tudo isso.”
Os filhos voltaram para casa com o coração apertado, mas felizes, porque viram o pai encontrar a alegria que ele tanto buscou ao longo da vida. Dias depois, o piloto procurou a família, mas soube que o velho menino havia partido. Com tristeza, eles lhe mostraram uma carta que o pai deixara para ele.
“Caro amigo piloto, obrigado. Em poucas horas, fez retornar aquele menino que um dia sonhou em pilotar um helicóptero. Minha decisão de não voar, apesar de ter frustrado a todos, foi tomada com a certeza de que um sonho havia se realizado. Aquele menino, agora um velho, pode partir feliz e realizado, pois para realizar um sonho não existe tempo; basta manter viva a esperança e o desejo. Muito obrigado.”
No fundo, a vida daquele idoso é um testemunho de que nunca se deve desistir dos sonhos. A fé e a perseverança, advindas dos ensinamentos da Igreja, sustentavam sua alma e, por meio de sua trajetória, nos mostram que a esperança verdadeira não tem prazo de validade.